3.4.12

a primeira vez a gente nunca esquece

Ontem foi a minha primeira aula de ballet. Eu e mais duas alunas. Primeiro dia, só eu tinha de fato dois pés esquerdos, as outras duas moças já tinham dançado em alguma outra oportunidade. E eu lá, sem saber se prestava atenção no braço ou na perna ou no pé ou no rosto ou sei lá, na música, talvez. Que difícil é isso! Dei o meu melhor, mas o meu melhor é simplesmente patético. E daí, né? Quarta-feira eu estarei lá, de novo. E nem sei responder se eu gostei, porque eu não faço a menor ideia do que esperar de uma primeira aula de ballet na vida. Piruetas não era, fato. O engraçado é a professora falar que ela é lenta no ensino, porque prefere que nós tenhamos consciência do corpo. E p’ra mim tudo aquilo parecia tão rápido. Sei lá se as pessoas sabem o que significa nunca ter feito ballet. Olha a mão, os ombros, olha o pé, olha o joelho, presta atenção no rosto, ó a postura, olha o calcanhar! Tá. Tá. Tá. Olhar eu posso até olhar, mas o que fazer com isso, não faço a mais puta ideia. Eu já não lembro mais na vida o que é não saber dirigir. Tomara que um dia chegue o dia de não lembrar o que é não saber ballet. Ontem eu precisava olhar pelo espelho as outras pessoas, p’ra me encaixar no mundo. Seria mais legal se eu pudesse prestar atenção em mim. Devagarinho vai chegando esse dia. Acabou a aula, palminhas constrangedora, detesto palminhas. Não sei o que é pior, não bater palma, sendo você a terceira num total de três. Ou bater e apoiar o coro. Sim, eu sou mal humorada. E não bati palminha. Então a minha parenta tinha dito que ia ser tudo bizarro, por que né, as pernocas. Mas acabou a aula e a professora fez um comentário muito legal. Aquele ser que não sabe se vai me ver de novo na vida [e então não precisa me elogiar] falou que o meu corpo foi desenhado p’ro ballet e que eu pareço uma boneca sei lá qual que ela disse o nome. E a filha de uma das alunas – que também dança – concordou, falou mais outras coisas que eu não entendi porque o meu repertório é medíocre de dar dó, e disse não sei mais o que do peito do meu pé e falou: - maior inveja. Fofamente. Eu ri. Aquilo era inédito. Só consegui rir e dizer que eu odiava as minhas pernas de mulher fruta [carinhosamente chamadas por mim de mocotó]. Porque antes eu tinha perna grossa. Mas depois da invenção da mulher fruta, eu tenho perna de mulher fruta mesmo. Póft. A professora disse que eu poderia ter sido uma ótima bailarina. Aos quase trinta, eu quero mesmo ser uma bailarina feliz. 

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